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Abandono


Não quero falar das flores
Nem de amores que senti só.
Não quero sentir mais fome, que não sinto só.
Nem quando aparecerem as dores, imperceptíveis aos que não as têm.
Quando veio a liberdade, provei seu preço.
Hoje sei que não é totalmente livre quem simplesmente vive.
Não quero lembrar dos pedintes;
Mendigam pela fome do corpo, não conhecem amor.
Jogaram a culpa toda neles.
Quem não conhece a falta, nunca poderá entende-los.
Nem a mim...
Quantos poderiam ser?
O quanto poderiam ter?
Tantos nem chegaram a nascer.
Segue a vida, a passos largos;
E a minha vida na contramão.
Quem diz conhecer o avesso mente.
Quem mente entrega a própria dor.
Quanto mais fraco, mais rápido será devorado.
Seja hoje ou um pouco mais a frente.
Não me apresente a essa gente!
Já estou farta de tanta desilusão.
O que mata não é o que vejo,
É o que não percebo.
É o que na verdade não deixou de existir
E afoga a existência num parecer de que nunca há o que padecer.
Prefiro o abandono as mãos levianas,
Dizer não aos que pensam que enganam.
Posso nada ter, mas muito sinto
Não troco-me como ao troco do que sobra.
Se eu não puder esperar nada da vida
Serei ela até quando esse nada se findar.
Marta Vaz


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