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Salva-me (Ao Surrealismo)


Salva-me de tudo que seja deveras perfeito. Salva-me para que prove do imperfeito e morra do amor que cala em mim.

Marta Vaz

Foto: Obra a persistência da memória de Salvador Dali. 

Memória da Alma





Alma em rasante livre galgando sonhos.
Que trazes para que em mim finde?
Dei-me um motivo para seguir.
Roubastes o pouco da minha inocência, 
Arrancando minha tranquilidade.
Que tanto de encanto é esse que em ti sublima?
Deixe-me entender?!
Pouco até aqui provei a ti,
Muito ao que exaspera é iniquidade.
Não trago razões e os motivos escorrem pelos dedos,
Como a todo sentimento a que chamo de amor.
Tanta inspiração brota em ti, alma companheira!
Perfume de uma rosa pálida,
Que o cálido provoca.
Esparge vapores como ares de pura esperança,
Beleza triste que toca profundamente.
Quem dera ser o poeta que a ti suplica!
Alma em forma de rosa, purifica-me.
Repouse tuas pétalas, misture-te a mim.
E quando tudo passar, seremos memória.

Marta Vaz

Noites e desejo



Faz frio em minha alma.
Desejo um casaco,
Um abraço ou um beijo teu, talvez.
Fiz cheiro da tua ausência,
Nas paredes ao chão;
Exala da alma pelo coração.
Mais um pouco,
Imagino nossa história.
Só assim suporto a falta.
Um suspiro arranca a atenção,
Roubando todos os sentidos. 
Sonho o céu estrelado e a nossa lua.
A leveza do voar,
Perder-me em tuas cores lisas, sem vestes.
Vibrar pelo que escapa até mim,
Atingir teu peito em cheio;
Matar nossas vontades,
Ceder aos teus caprichos.
Ser tua, não por uma noite apenas,
Ser parte da tua vida.
O amor por noites inteiras,
Ou até que o desejo esgote em si.

Marta Vaz

Âmago




Danço com ritmo,
A dança da alma.
Exalando encanto,
Aspirando liberdade.
Saúdo a natureza,
Expressando o amor.
Tenho fé na vida,
Encarando-na de frente.
Não trago e nem levo bagagens,
Sentindo intensamente cada passagem. 
Aprendi com perdas;
E ninguém é meu.
Desejo o que muitos querem,
Levando apenas o nada inerente.
Sou fruto da terra,
Sorvida por mentes.
Sinto o vento na pele,
Deixando-me voar.
Sou leve como pluma;
Intensa como vulcão.
De vontades nuas,
Formas em construção.
Sou o tempo que não para,
Agregando sentimentos.
Sou o talvez do agora,
E quem sabe do amanhã a semente.

Marta Vaz






Ao Amor, a você.




Tanto chão, tanta terra, tanto mar,
Até encontrar aquele olhar.
Uma certeza tão intima, tudo tão peculiar!
Suavidade na expressão,
E alguma dor, talvez...
Um amor deslocado,
Em desencontros em algum passado.
Salta como um sonho,
Expõe-se em presente.
Sublimando toda falta
Aninhando na alma da gente.
Pobres corações céticos!
O que fizeram com o encanto?
Jazia num canto qualquer,
Agora vive sua vez.
Desliza todo na vontade,
Flui e segue livre...
Não é prisioneiro de coisa alguma.
De matiz ardente em boca carmim.
Traduzido em versos,
Calando intensamente em mim.

Marta Vaz

A Dança



Corpos soltos no espaço
Em cada passo, levitam.
Onde está o amor?
Movimenta o corpo nela.
Corpos suados, colados.
Boca quente,
Cheiro inebriante.
Convite à paixão,
Escorre pela pele e pelo salão.
A Luz é toda ela.
Sonhos de muitos,
Escapando de mim.

Marta Vaz

Foto: Richard Young

Chama Gêmea




Par da minha alma,
Receba minha gratidão.
Lembremos apenas o que foi bom.
Ainda sinto o cheiro das flores em tuas mãos,
Creia, é amor.
Tudo o que somamos,
Cada olhar, cada sorriso...
Encanto vívido na memória.
Pode parecer loucura,
Mas não para quem ama.
Fotografia do teu melhor
Tatuada em mim.

Marta Vaz

Efêmera



És bela,

Mesmo triste.
Atirada pela janela, 
Como é bela!
Beleza roubada;
Imaculada em cores frias.
Lembra amor,
Cheira à morte também. 
Bela por ser efêmera.
O efêmero que eterniza,
Como a pitonisa; 
De pura excitação e encanto, 
Exercidos de mim.

Marta Vaz