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Libertação


Hoje sou liberta

Alma antes cativa,

Habitando desertos seculares.

Alma que hoje inspira e expira novos ares.

Sou liberta

Inversamente proporcional ao pranto derramado,

As dores de chagas incrustadas

E as lanças atiradas no passado

Hoje sou presente

Embalado, esperando seu verdadeiro dono.

Estou inteira e aberta

Esperta e voraz

Amante da vida, amada por mim

Perdoada das dívidas que contraí

Perdoando devedores que impeli.

Espalmada diante de Deus

Com as linhas traçadas e renegada pelos judeus

No hoje quem entenderia o que sou?

Aquele que morreu e se transformou,

Como eu.

Trago na boca o gosto de um silêncio

Nos ouvidos as vozes da vida,

No peito esperança e certeza no também.

Tem mais alguém?

Escuto um chamado

É seu?

Então vem, aproveite o agora

Não se justifique em demoras

Pois tudo o tempo leva.

Menos ao todo.


Marta Vaz

Da Criação...



Acontece que uma cabeça com ou sem juízo, pensa...
Ela percebe que o mundo se renova a cada instante;
Assim como seu corpo, sua vida muda.
Muitas vezes nos faz mudos, estupefactos.
De repente acorda-se.
A imagem no espelho refletida mudou;
Seu foco agora se ampliou.
Nessa hora , o agora grita em nós,
As cores ficam mais vibrantes.
Ou será que estamos pálidos, mansos?
Não! Estou mais cálida, irradio calor.
O peito se enche de vontades,
Insanas, profanas?
Não! Sapientes, carentes de sentir.
Como o magma que ferve no manto,
Cubro-me para ser despida.
Nus encontramos paz.
E num instante se faz um abraço...
Sentem-se as batidas de um só coração.
Mexendo, remexendo...
Mansidão em toques que arrepiam.
E dançamos, trocamos humores;
Exalamos o perfume do amor.
Dos poros escorre o prazer.
Olhos fixos, bocas sedentas;
E nada se perde, tudo atrai...
E em cada repetição se faz o refrão.
Sons que inspiram ao querer,
Cada vez mais!
E o momento não termina...
Ele se reflete na criação;
Aquela que tem o melhor de nós.

Marta Vaz

Culto ao artista morto.

Cultivo a arte, admiro-a.

Ela vela e revela muito.

Cálida, plácida e mansa,

O que de mais belo restou.

Ela não me agride,

Não transgride meus limites.

Permaneceu por décadas

ou talvez séculos,

Silenciosamente majestosa.

A arte dos mortos é muito mais viva;

Ela é eterna...

Cultivá-la é estar morta como ela?

Não! Definitivamente, não.

É não deixar que a morte vença;

É fazer a vida mais bela.

Não é atoa que heróis, santos e maiores ídolos

estão mortos.

Só é perfeito aos olhos alheios o que não existe mais,

Ou o que restou para lembrar algo que já morreu.

Marta Vaz

Te Perdoo...


Te perdoo por não ser o que pensei;

Por julgar meu mundo como inferior ao seu;

Te perdoo por querer o que nunca foi seu...

Te Perdoo por sufocar minha ilusão;

Fazer-me esperar que digas não.

Te perdoo por ser uma linda visão

Mesmo como sombra que encobre meu sim.

Te perdoo, te perdoo...

Por não ser na sua mão...

O tal elo, o que espero sem noção do seu querer.

Te perdoo pelo sim ou pelo não.

Pelo plagio da canção que me fizeste ser.

Meu mundo não é de algodão.

Meu caminho feito de pedras-sabão;

Se escorrego...

Te perdoo, por nunca estender sua mão.

Agora a madrugada me assola;

Não tenho mas como gritar,

Fiz das palavras o meu dizer.

Te perdoo, te perdoo...

Por não me ter, assim não tem o que perder.

Marta Vaz

Tanto em tão pouco...


Olho no relógio, são nove

Fico anciosa, nervosa

Dia nove de uma quarta-feira

O ano, final nove.

Começa o espetáculo...

Nove minutos de atraso

Longe dali a Diva do N9ve faz 35

E muito perto de mim tenho as 5

Mulheres de vozes perfeitas

Acordes marcantes a meia luz

Meu coração acelera a cada nova canção

Sinto Chico ali ao meu lado

Corpo, alma em som e luzes

Pétalas e velas, o cheiro

Palco de infinita beleza.

E quando parece que vai terminar

Ouço meu nome vindo do alto

Uma das mulheres do palco

Oferta-me um lindo bouquet

Minha felicidade é maior que a timidez

E em poucos segundos

Minha lembrança se torna eterna.

Marta Vaz