quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Espelho meu


Nua ao espelho
Vejo os olhos que um dia fitaram os seus 
As mãos que ao microfone disseram tanto
O tanto que você não ouviu
Aquele mesmo que usou pra pisar nas páginas da minha vida
Esse ego que me sufoca a anos
Essa atitude rasa que em nada combinava com o amor que dizia sentir.
Na boca ainda resta o batom que de relance arrancou o seu 
Todas as marcas ainda estão aqui
Tatuagens que nem o tempo conseguiu apagar
Sigo com aquele sorriso bobo
Agora sem tantos disfarces
Foram tantos que me perdi por entre os personagens que criei 
Hoje tenho uma Analista, e não consigo mais sorrir depois das sessões, dói reaprender.
Aprender quase tudo que deixei em dias que morreram a cada pôr do Sol que vi.
E não foram poucos, os dias, as noites, as perdas, as tantas coisas que hoje entendo
Minhas sabotagens, essa minha mania de fugir do Amor, de amar.
O Amor existe em mim, mas tão divergente dos demais, dos normais.
É, continuo na contramão com minha poesia.
Talvez um dia mergulhe de vez,  aprenda a não fugir e a matar quem eu era, 
Dando aquele tal último suspiro em sua boca.
Marta Vaz


sábado, 22 de junho de 2024

Dela


 Brilham no claro ou escuro

Curiosos seguem o que a ela interessa

São olhares diversos

Mas o que fita, ata e não solta mais

Poderia ser Maria, Laura ou Gabriela,

Mas se assim fossem, não seriam dela

Observo o que vê e sonho através dela

Confundi seu nome ao vê-la um dia na janela

Ela sorriu, com uma doçura muito peculiar.

Teria muito para escrever o tanto que não sei dela

 Na fotografia tem muito o que poucos vêem 

O mundo é colorido nas páginas dela

Quem a conhece não se engana

Olhares tão profundos, 

São de uma, mas não qualquer, Juliana.

Marta Vaz 





sábado, 4 de fevereiro de 2023

Tesão


Preciso dessa emoção para criar
Viver, respirar esse tesão.
Não importa se vai passar ou não
Preciso sentir
Envolvimento, sentimento, calor
Acolhimento em cada palavra.
Despertar desejo só em olhar.
Falando ou ouvindo,
Nada é bobagem...
Sem emoção a vida apenas passa.
Preciso mais que isso...
Mergulhar e sentir seu tesão
Fervilhando, convidando a seguir sem medo.
Viajar com a imaginação, 
sentir toda essa emoção mesmo em segredo
É muito mais gostoso, prazeroso, intenso
Ser toda sua por um instante, que dure uma vida.

Marta Vaz

sábado, 28 de maio de 2022

Imortal

 


O tempo escorre pela pele,

Como suor fruto de emoções clandestinas.

Tento achar explicações entre lembranças e canções.

Permeio dores imperceptíveis,

Quase chego a tocar sua alma.

Algo que só eu conheço, 

Tão intima e própria em mim.

Por vezes chego a gritar ao mundo

Ai lembro quão longe estou.

Quão profundo sinto e sou.

Lembro que o melhor está no silêncio

Nesse sentir tão intenso!

O meu olhar fixo provando cada parte do que mostra

Mas quero o que esconde, 

O que não será devorado pelo tempo

Quero o que acelera tudo em mim.

Nem tudo é efêmero, fugaz.

Essa viagem vai passar um dia, eu sei.

Mas a fonte dessa embriaguez, nunca.

Bebo dos saberes ocultos

Sou tragada, lambida pelas labaredas dessa fogueira incauta

Sendo a feiticeira, a condenada pelos pecados

Mas imortal por esse sentimento que nos consome.

Marta Vaz



 


 







sábado, 30 de abril de 2022

Silêncio

 


É melhor silenciar

Qualquer verdade lúcida que fale 

Vão dizer que são mentiras,  loucuras delirantes. 

É melhor silenciar 

O silêncio não trai, nele escuto as vozes do ontem, de hoje e do amanhã. 

Mesmo que doa, não vou adormecer novamente 

Respostas não precisam estar só no inconsciente.

Meu delírio é viciante, estou nua na noite escura

Será mais um delírio, dos tantos que tomam esse mar de emoções tão profundas?! 

Sentir nem sempre é bom e nem ruim também, apenas imprescindível, mais que necessário.

Lúcida, tudo é noite, loucura, delírio, silêncio...

E pasmem,  uma solidão profunda coletiva!

Marta Vaz














domingo, 10 de abril de 2022

Em Voz Alta

 


Pensamentos se embaralham como cartas nas mãos de um "croupier";
E o tempo voraz, engolindo tudo tão rápido!
As chances para um bom lance são cada vez mais arriscadas.
Cresce a excitação, essa vontade de continuar embriagada de esperança.
E os sentimentos saltam com as palavras, inundam o papel
Tudo na minha cabeça roda com o meu mundo;
Uma tristeza profunda se dilui lentamente nesse fluxo em mim
Fluindo como o rio que nunca para, mesmo quando a vida cessa.
Estou nessa, deixando tudo que não me cabe ir.
Um dia estarei nua, talvez tão solitária como a Lua,  
Sendo a inspiração de canções e poesias.
Lembrei que já sou assim, mesmo não sendo ela.
Sou aquela que pulou da janela quando se viu naquele olhar
Aquela que correspondeu sustentando um diálogo secular, sempre pelo olhar.
Sentia que não precisava mais de nada.
Mas o tempo muda e veio a tempestade arrancando minhas roupas, tudo que achava que tinha.
Levando tudo embora.
Fiquei nua, só eu e aquele olhar espelho.
Vi o que nunca imaginei enxergar; 
Barreiras tão frágeis, eram como feitas de algodão.
No primeiro momento, medo, desespero, mas depois...
Há tanta vida além da minha!
Como é tênue essa tal linha que nos separa?!
Lembro que você já me disse isso.
O que é esse abismo enorme que se agiganta em nossos pés?!
Pausa... 
Temos asas!
Será que sabemos voar?!
Ficar no mesmo lugar não nos cabe, ou só a mim? 
Tudo muda e já mudou
Você vem ou vai ficar pra próxima sessão?
Nesse cinema a vida sempre se repete
A ilusão na tela reflete desejos, medos , anseios, tudo talvez numa grande ficção.
A vida está no rio, nas asas, nos pés, nas mãos, na pele, no cheiro, no beijo, e nessa vontade de você que não passa.

Marta Vaz

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Um brinde à insônia do que atordoa


 É dor o que se aprofunda na carne,
As palavras como chibatadas repletas de ira, ainda são proferidas sem piedade.
E quanto tempo passou?! 
Mas esfolam, esfolam... 
Sangrando nossas feridas.
Quanto sangue pulsa forte nas veias, escorrendo por essa terra árida de quase tudo.
A gente teima em viver, a gente teima em chegar a essa fonte inesgotável que tentam fazer acreditarmos não existir, não sermos dignas desse tanto.
Sempre foi assim, minhas irmãs morreram torturadas nas fogueiras da inquisição, por ousarem ser... Elas
Tudo em nome de um Deus que a gente não conhecia e ainda não conhece. 
As culpas até hoje são lançadas em nós, como em latrinas cagadas pelos restos podres de que eles são formados.
Até hoje tentam nos sangrar, rasgando nossa carne, abafando nossos gritos, minando nossas forças. Diminuindo quem somos, o que carregamos, o que sentimos e o que já a muito deixamos de sonhar, por pouco ou nada descansarmos.
Eles tentam a todo custo nos chicotear novamente, com palavras, com atitudes, com o desprezo ou por puro prazer,
Buscam acabar com nossos traços, nossa base, ancestralidade.
Do nosso ventre parimos mudanças,
 elas nunca vão deixar de vir pelo gozo, pelo prazer que tentam nos tirar, 
"Doutores" de merda que não sabem nos fazer gozar, nunca souberam!
A cada uma de nós que tentam silenciar enterrando, brota uma nova semente, pulsando latente tudo novamente.
Somos eternas!
Sou Sal, choro sim, choro um mar de esperanças, de vida, de mágoas também.
Não tentem calar esse choro, ele vai muito além do que acham que podem controlar.
Assim volto sempre as origens, onde somos apenas o desejo da Deusa que conheço
E brindando a essa força, desatando cada corrente ,
Busco, busco, busco sempre...
E encontrei bastante das que aqui estiveram,
Sou um pouco de cada uma delas
E o muito que ainda nos falta viver.
Marta Vaz




Espelho meu

Nua ao espelho Vejo os olhos que um dia fitaram os seus  As mãos que ao microfone disseram tanto O tanto que você não ouviu Aquele mesmo que...