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A Loucura e o retrato


Numa cabeceira ali jaz ele,
Cor desbotada e moldura sem brilho.
Era a bengala para aquele homem...
Será que o fazia mas forte?
Ou fraco talvez?!
Mas era a ele que toda noite beijava.
Como aquela mulher de outrora.
Acreditava piamente;
Que todas as noites dormiam juntos.
Chegava a sentir seu cheiro empoeirado.
Sua mente recusava-se a enterra-la.
Sua sanidade a santificava;
E a loucura a enquadrava,
Trancada num retrato.
Ao lado de sua face;
Hora confundiam-se nos disfarces.
Se esse homem contempla a vida?!
Ele faz muito mais que isso...
Ele a eternizou de tanto amar!
Chego a pensar, se retratos deveriam existir...
Simples pedaços de lembranças;
Que muitas vezes são fios de vidas.
Vidas que será que não existem realmente?
Nos porta retratos tornam-se tão reais!
E a felicidade escoa como numa ampulheta.
Mas se estiver errada?
E a felicidade for a enquadrada?
Não ficarei para saber;
O meu tempo é curto diante da eternidade.
Não guardo retratos, alias não gosto de fotos.
No espelho da vida fitei o olhar desse homem;
Nos confundimos em sobreposições de imagens.
Não quero estar também enquadrada ao lado dele!
Nem ser a ele...
Quantas vidas se confundem diante do espelho?!
Minha sanidade deu lugar a liberdade da loucura;
E nela escuto Deus.
Voo em pensamentos...
Desmancho-me em lágrimas de emoção.
Todos os dias, uma nova canção.
Só peço um favor...
Não fotografe esse momento!
Ele não caberia em uma moldura.

Marta Vaz

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